quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eu ainda ...



Porque antes eu tinha...  uma alma mansa, um sorriso pouco, uma esperança diminuta, uns olhos opacos. E então tu apareceste com todas tuas mil cores, teus gestos bonitos, tua paz, teus beijos enlouquecidos, teus lábios ansiosos, teu corpo em brasa, tua delicadeza, tuas delícias, tua forma de amar. E o meu planeta começou a ter pinceladas vermelhas e passou a se chamar"Amor". 



Natália Anson Lima


Eu ainda tenho as unhas feitas e limpas, as mãos pequenas como as tuas e a pele tão pálida quando as velas que se  derretem ao sol (apenas tu podes entender esta sentença). Eu não tenho mais cabelos curtos e loiros, disso tu sabes, cresceram e estão tão escuros quanto os teus, tão escuro quanto meus olhos, que continuam tão escuros e grandes, quanto tu um dia disses.
Ainda sou magra e quente, minhas pernas ainda são tortas, eu ainda gosto de colocar gelo na boca e ficar gripada, eu ainda gosto de te passar resfriado. Eu ainda sinto quando tu não estás bem, eu ainda pressinto as coisas antes de acontecerem. Eu ainda como muito, e fico sem comer quando me aborreço. Eu ainda oro por você todos os segundos, como pedistes, e mesmo se não pedisses assim o faria. Ainda tomo muito café, ainda é um vício, mas também adoro os capuccinos, e os leites maltados. Eu ainda gosto de usar all star, e até que agora uso vestidos e rasteiras. Eu ainda adoro borboletas, principalmente as farfallas azuis, e vou te avisar que eu ainda digo que eu sou um pássaro, que nós somos passáros... Eu ainda escuto Rhapsody e acho que é tudo de ti, mas não consigo ouvir Victor e Léo sem que ache a nossa história em cada letra. Minha cor preferida ainda é o verde, e meu oceano ainda são teus olhos. Meus sonhos ainda são os mesmos, e ainda quero ter os filhos que planejamos. Eu ainda quero um sítio com um riacho e uma lama pra nos sujar... Eu ainda penso no nosso apartamento pequeno, cômodo com paredes brancas, persianas azuis e carpete emadeirado.
Ainda sou dócil, mas adquiri um pouco de orgulho, me perdoe, mas tinha que criar defesas. Eu ainda choro fácil, me irrito muito, e ainda desvio o olhar olhando para a esquerda, quando me faltam palavras ou perco a graça. Ainda escrevo teu nome nas paredes do meu quarto amarelo e escrevo os diários que prometi. Ainda tenho as nossas fotos pregadas do meu guarda-roupa, e ainda tenho fotos suas. Ainda sei datar todos os nossos momentos juntos, e todas as despedidas que tivemos. Ainda bato a cabeça na parede sem querer e não sinto dor, ainda tropeço na rua inúmeras vezes. Ainda não aprendi a olhar os dois lados das pistas, por isso necessitava que tu sempre estivesses me puxando para a calçada como antes.
Eu ainda finjo não te amar, quando tu fazes algo que me entristece. Eu ainda te espero, sim, de todas as formas de descrição, eu ainda te espero.
O que eu ainda não sei, é até quando, e se haverá quando.


Evelyn Colaço


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